segunda-feira, 31 de outubro de 2011

PÔNEIS versus BRANDING


por @marcoshiller

Meses atrás escrevi um texto com a minha opinião sobre os, literalmente, malditos pôneis da Nissan. Basicamente coloquei minha sincera impressão sobre o que achei dessa campanha. Mas muito mais do que deixar uma percepção subjetiva, procurei ancorar meus comentários em cima de tudo que entendo e tudo que li na minha vida sobre marcas, branding, construção de posicionamento e marketing (para ler meu primeiro post de agosto, o link é esse: http://bit.ly/tuJKuK).

Em resumo, eu não gostei e gostei. Deixa eu explicar: não gostei pois com essa campanha a Nissan mostrou como age uma empresa que pensa sob a ótica de campanhas e não em branding e construção efetiva de marca. E gostei pois comecei a usar esse exemplo dos pôneis em minhas aulas como um clássico caso de como não se deve construir marca.

Publiquei minha percepção em meu blog e alguns outros veículos, e recebi retornos de todos os tipos. Teve gente que adorou, retuítou, elogiou, como também sofri retaliação de algumas minorias, desde gente dizendo que isso é um novo tipo de comunicação, é um processo criativo sofisticadíssimo e contemporâneo, e até pessoas dizendo que foi bacana, pois gerou um grande buzz marketing, e isso é que vale hoje em dia.

Pois bem, semana passada saiu uma entrevista no site do Jornal do Carro com Murilo Moreno, Diretor de Marketing da Nissan no Brasil, sobre o efeito pós-campanha (o link está aqui: http://bit.ly/r8qd0l). Basicamente o que me chamou atenção na entrevista foi o seguinte:

- nas primeiras campanhas (há 1 ano e meio atrás) a Nissan tinha 7% de lembrança de marca pelo consumidor e eles mostravam as marcas de carros rivais. Sofreram com Conar e disseram que usaram de criatividade e humor, já que não tinham muito dinheiro;

- antes da campanha dos Pôneis, as pessoas confundiam a marca Nissan com a marca de macarrão Nissin;

- eles saíram 0,8% em 2010 para 2% de market share esse ano;

- o filme dos pôneis termina com a expressão “Te quiero” e Murilo Moreno disse que “foi uma das sugestões que a agência deu e achamos legal. O engraçado foi que o consumidor associou não apenas à Hilux, mas também à Ranger e à Amarok, que são argentinas.”

Vamos aos meus comentários. Como assim o consumidor associou a campanha dos Pôneis Malditos à Toyota Hilux, Ford Ranger e à Volkswagen Amarok? Para mim, tudo isso ratifica o meu pensamento que a Nissan é uma típica empresa norteia suas estratégias de marketing sem prezar pelo longo prazo, consistência e tudo mais que prega o branding. E fica muito evidente para mim que se trata de uma marca que deixa a agência comandar as diretrizes de comunicação da empresa.

Ouvi pessoas dizendo que o vídeo da campanha teve milhões de views no YouTube? Que bacana! Mas o quanto isso gera de emplacamento de novos veículos da Nissan no DETRAN? Até onde eu aprendi na faculdade, normalmente uma das funções do marketing e de campanhas de propaganda é vender, certo?

Quando você não faz um trabalho de Branding bem feito, ou seja, quando você não evidencia de forma clara, consistência e visível os seus vários elementos de marca em uma página dupla de revista por exemplo, você está fazendo propaganda de graça para o líder da categoria. Sim, isso mesmo que você leu: você faz propaganda de graça para a marca líder. Certamente quando os executivos de Branding da HYUNDAI viram o anúncio dos Pôneis Malditos devem ter pensado: “Aeeee, não precisa mais gastar tanto com verba de comunicação, tem gente fazendo comercial grátis pra gente!”. Recentemente, fiz uma rápida sondagem em uma classe de marketing que leciono. Pedi que todos fizessem silêncio e escrevessem em um papel qual o nome da marca anunciante da tão comentada campanha dos pôneis malditos, e me entregasse o papel. Após a soma, o resultado foi: 33% Hyundai, 24% Toyota, 22% Kia Motors, 14% Nissan, 7% não lembravam/não sabiam. Que beleza! 80% lembram da campanha, e apenas não lembram da marca.

Sua marca não pode se limitar a um simples, tímido e coadjuvante logo num canto inferior esquerdo de um anúncio. Sua marca são cores, sua marca é direção de arte, é consistência de layout, é paixão aos detalhes, é a posição de todos os seus elementos cirurgicamente pensados como mascote, embalagem, slogan, chamadas, e também logicamente seu logo, tipologia, etc.

Obrigado, Nissan!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

1 minuto de silêncio para os livros de papel


por @marcoshiller

Um dos assuntos que mais gera um debate acalorado hoje em dia é o futuro do mercado editorial e dos livros físicos ou e-books. Para onde está indo esse mercado? Os livros digitais vieram para ficar? Os livros físicos tendem à falibilidade? Essas e outras perguntas transitam as cabeças de editores, jornalistas, professores, bibliotecárias e amantes da leitura em geral. E com esse texto aqui procuro não trazer respostas, mas polemizar ainda esse debate. E deixar a minha opinião, claro.

Eu sou professor. E o livro é a água que mata nossa sede de conhecimento. Os livros e seus autores são os elementos que ancoram todas as discussões que provocamos no mundo acadêmico. Eles são a nossa razão de ser. E os livros digitais são tudo isso, só que digitais, e não analógicos. Os livros físicos são bonitos, são charmosos, enfeitam nossas mesinhas de centro, etc, etc, etc. Mas os livros físicos pesam nas nossas mochilas e nossas costas doem. Os livros físicos são combustíveis para possíveis incêndios. Os livros físicos são feitos de papel, e sob a ótica da sustentabilidade, isso não é politicamente correto hoje. Os livros físicos ocupam milhões de metros quadrados em prateleiras de bibliotecas. Livros físicos empoeiram.

E os livros digitais? Ah, o e-Books são mais fáceis de compartilhar, mais fácil de carregar. E possuem exatamente o mesmo conteúdo do livro de papel. E quem disse que um iPad não fica bonito na nossa mesinha de centro? Fica sim.

Uma informação para os saudosistas do livro de papel. Há cerca de 1 ano, a BORDERS, simplesmente a segunda maior livraria dos Estados Unidos, pediu falência. E entre os vários motivos que levaram a essa quebra, um deles é o maior forte: a BORDERS subestimou os e-Books e não entrou de forma efetiva para esse mercado.

Há gente que fala que ler em uma tela cansa a vista por causa do brilho. Experimente ler no Kindle da AMAZON que tem a mesma opacidade de página de papel. Você não volta para o papel. Recentemente me peguei em uma discussão com uma professora do SENAC, onde eu defendia os livros digitais e ela defendia que os livros físicos são imortais. No meio da discussão eu perguntei a ela: “a senhora já mexeu em um iPad?” E ela disse que não. Oras, fica complicado discutir e tentar contra-argumentar com uma pessoa que forma opinião em cima de assuntos que desconhece. Não conhece, não fala.

Na minha opinião, os livros físicos estão sim com os dias contados. Assim como a TV analógica. Um minuto de silêncio por favor.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Vamos estender a marca?


por @marcoshiller

Você conhece a Nestlé? Claro! Você conhece o Leite Moça Nestlé? Sim. E o Moça Fiesta? Muito bom. E o picolé Moça Fiesta? Certamente sim. Como que uma marca consegue ser tão forte ao ponto de se estender para até 3 níveis de categorias de produtos? A Nestlé consegue e faz bem feito. Eu considero a Nestlé como a marca que trabalha melhor no Brasil hoje essa técnica de branding chamada “extensões de marca”.

Em 1991, o professor David Aaker da Universidade de Berkeley na Califórnia cunhou o termo “brand extension” ou “extensões de marca” para batizar o fenômeno de marcas conseguirem tranferir seus valores e a sua essência para produtos de categorias completamente distintas, e com isso fortelecer ainda o binônio marca-consumidor.

Quando vou falar de extensões de marca para uma turma de primeiro ano de graduação por exemplo, gosto muito do exemplo da marca Bic. A marca Bic, foi fundada pelo Sr. Biche e as canetas Bic fazem parte de nossa vida há vida toda. O incomparável Jerry Seinfeld chegou fazer um stand-up comedy completamente dedicado às “Bic Pens”. A caneta Bic é uma caneta barata, de boa qualidade, um produto de baixo envolvimento com seu usuário e caractariza-se principalmente como um produto descartável. Essas são as características que formam a essência, ou seja, que forma o DNA da marca Bic.

E partir do dia que a Bic decide fazer extensões de marca, ela deve carregar todos esses valores para classificarmos como uma boa extensão, ou como Aaker chamou de “good extension”. Um belo dia a Bic decide lançar sua linhas de isqueiros. O que tem a ver isqueiro com canetas? Nada, são categorias completamente distintas. Mas se trata de um ótimo de exemplo de extensões de funcionam bem, pelo simples do isqueiro também ser barato, de qualidade muito boa e, acima de tudo, descartável. Assim como o aparelho de barba da Bic, que também é uma ótima extensão.

No final da década de 80, um “gênio” da Bic resolveu lançar perfumes da Bic. Perfumes da marca Bic? Sim, isso mesmo. Não preciso nem falar que foi por água abaixo, certo? Sim, não decolou. Pelo simples fato de um perfume não ser um item de baixo envolvimento e descartável. Certamente, o gerente que liderou esse projeto na época, não colocou no seu currículo esse fato trágico.

Outras várias marcas também fazem o trabalho de extensão de forma sublime. Yamaha por exemplo estende sua marca para motores de barco, para motos, para piano e baterias. Qual o fio condutor que amarra todos essas produtos? É a marca Yamaha, que tem como essência a precisão, a alta performance e a sonoridade. E tudo que a Yamaha desenvolve carrega esses atributos. Já a também oriental Mitsubishi tem na sua história um caso fracassado de extensão de marca quando lançou um dia latas de sardinha. Não vendeu.

Por último gostaria de mencionar a Unilever que vende Omo, até Chicabon, Vende Dove até Caldo Knorr. Vende Arisco até Shampoo Clear. E a Unilever conseguiu por meio de uma missão amarrar e envolver todos essas marcas (de diversas categorias de produto) em um único mote: “Nós desenvolvemos todos os dias produtos que atendem necessidades de higiene, cuidados pessoais e nutrição, com marcas que ajudem as pessoas a se sentirem bem, parecerem bem e aproveitarem melhor a vida”. Parabéns, Irmãos Lever!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ronald, vai pro divã!


por @marcoshiller

Toda marca tem uma essência. Ou pelo menos, toda marca deveria ter uma essência. E a essência de uma marca nada mais é o que ela representa, são aqueles valores que estão enraizados em absolutamente tudo que uma organização se propõe a comunicar, na forma como seus funcionários de comportam, a maneira como a marca se apresenta em anúncios publicitários, o seu posicionamento, ou a forma como ela lida com órgãos de imprensa, mercado, entidades, etc. E traduzir essa essência para seus consumidores de forma coerente, consistente e honesta é uma tarefa difícil.

Eu acabo de sair da estação de metrô Paraíso aqui em São Paulo e me deparei com um anúncio do McDonald’s que deixou muito intrigado. Era um anúncio muito bonito e clean, como são habitualmente todos os anúncios da marca (parabéns, Taterka!), informando que agora o McDonald’s nos dá a opção de pedirmos uma saladinha, ao invés da batata frita, na nossa McOferta. Para mim, aquilo foi um exemplo clássico de uma marca que não está sendo coerente com a sua essência. Vejamos: quando pensamos em McDonald’s o que vem à nossa mente? Na minha mente vem: comida rápida, hamburgeres saborosos, imensos, muito calóricos, e lojas lotadas onde eu sento em cadeiras com assento duro. Para mim, McDonald’s é isso, e imagino que para boa parte das pessoas que lêem esse texto: idem. E agora, eles querem nos dizer que são saudáveis, que seus alimentos são light e que eles se preocupam com nossa saúde. Pra mim, essa historia não cola e eu encaixo isso como um clássico exemplo de marca que não está sendo fair com o seu DNA, com a sua essência.

Algumas pessoas podem até contra-argumentar que isso se trata de um reposicionamento de marca, ou um processo de adaptação da empresa a essa nova tendência de se levar uma vida saudável. Problema nenhum da marca fazer isso, mas acho que McDonald’s está pilotando isso de forma muito brusca e muito abrupta. Na minha visão, esse novo mote “da saladinha” fere demais o seu legado original: peça pelo número, coma rápido, se alimente e saia logo que outra pessoa precisa sentar no seu lugar.

No verso do folheto de bandeja que o McDonald’s coloca em suas lojas, podemos ler uma tabela onde eles explicam de forma super detalhada quais os componentes nutricionais de cada item do cardápio. A gordura saturada de um Big Tasty, por exemplo, já supre em 109% nossa necessidade diária. E em paralelo, eles nos vendem hoje em dia as cenouritas do Ronald, ou nos oferecem maçãzinha e iogurte com frutas vermelhas. E ao mesmo tempo, continuam nos sugerindo um Super McShake de Coco que supre em módicos 45% nossa necessidade diária de gorduras saturadas. Em algumas lojas eles oferecem espaços como o McCafé, com poltronas fofas, iluminação baixa e espressos bem tirados. Para mim, isso não é autêntico da marca McDonald’s. Talvez a criação de uma nova marca, totalmente apartada, resolveria esse desalinhamento de discurso. Mas não, eles insistem em comunicar toda essa nova entrega com o mesmo “M” amarelo. Aqui deixo uma dica: ao acabar de ler esse texto, vá até uma loja McDonald’s e peça um Cheddar McMelt acompanhado de uma água de coco (harmoniza muito!).

As virtudes mais belas do processo de comunicação de uma empresa com seu mercado é a consistência e a coerência com a essência de sua marca. E na autoridade de meus 33 anos, acho que McDonald’s não está sendo honesto com seus valores originais. Oras, McDonald’s! Apesar de ser uma das 10 marcas mais valiosas no último ranking da consultoria Millward Brown, acho que vocês deveriam levar o Ronald para o divã. Mais que isso, já na primeira sessão eu pediria que fosse lido em alto em bom tom uma frase que foi imortalizada pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “Torna-te quem tu és”.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Baconzitos sabor Rato?


por @marcoshiller

Ano passado aconteceu com a Brastemp no famoso caso Borelli. Já tinha acontecido também com o polêmico site “Meu Renault Falha” criado por uma consumidora aborrecida. Houve também o caso do Alpino para Beber, e que não continha Alpino. Meses atrás foi a vez da pelemania da Arezzo, depois o condenável caso de trabalho escravo da espanhola Zara. Semana passada foi a vez do Toddynho. Pronto! Chegou a vez da Elma Chips com o seu Baconzitos. Trata-se de mais um (de vários que ainda virão) clássico caso de crises nas redes sociais. E certamente esses assuntos devem estar agitando os corredores da Pepsico Brasil, que é dona das marcas Toddynho e Baconzitos.

No caso dos Baconzitos, foi supostamente encontrado um rato dentro de um pacote de Baconzitos. Independente da veracidade do fato, isso é notícia. E basta essa notícia cair amplificadores das redes sociais que o assunto escala de forma vertiginosa os Trend Topics do Twitter, e lá está há 2 dias, no topo. E quando entramos para ler o que está sendo dito, cerca de 90% dos comentários são gozações e piadas.

Independente se houve realmente um erro por parte da Elma Chips, vale ressaltar aqui que não existe empresa 100% perfeita no mundo. As empresas são formadas por pessoas e por processos, e tudo é falível. E basta um simples nó desatado cair nas graças das redes sociais que o assunto adquire um exposição violenta em pouco tempo. Uma dúvida que fica no ar é: um episódio como esse afeta as vendas de Baconzitos no país? A minha percepção é que sim, mas muito pouco. O brasileiro esquece fácil das coisas. Basta surgir outro escândalo que logo logo nunca mais ouviremos falar da história do ratinho no Baconzitos. Até semana passada, só se falava do risco de explosão do Shopping Center Norte, e agora o assunto se dissipou (como o gás metano) e aposto que o shopping estará habitualmente lotado para as compras de Natal. Passe em frente a uma loja da Zara hoje que certamente ela estará cheia de consumidoras.

O fato é que não há uma cartilha do que se fazer diante de um episódio desse. Mas a Pepsico agiu rápido. Divulgou nessa quinta-feira dia 13 de outubro uma nota da sua fanpage do Facebook dando um parecer oficial da empresa sobre o caso. Ainda não há uma receita de bolo do que se fazer diante de um escândalo desses. Cada caso é um caso. Mas algumas medidas são importantes e devem consideradas nesse momento:

- independente do tamanho da mancha de óleo no oceano, e seja qual for o plano de ação a ser adotado, tudo deve ser executado de forma rápida;

- transparência e bom senso por parte da empresa nunca são demais em um momento turbulento como esse, e o consumidor valoriza isso;

- grandes empresas hoje em dia já possuem o chamado Comitê de Crise e é fundamental que em momentos como esse do Baconzitos por exemplo, esse comitê seja convocado rapidamente e as pessoas (geralmente um advogado, um RP, um jornalista e o gerente do produto) decidam o plano de ação.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ele deixou uma marquinha no universo


por @marcoshiller

O planeta hoje acordou triste. O mago Jobs faleceu, após uma longa, histórica e bem sucedida jornada à frente do mundo da tecnologia. Após cerca de 7 anos de luta, Steve foi vencido por um dos mais letais tipos de câncer. Jobs foi um gênio, e todo gênio que se preze sobra em alguns aspectos e deixa a desejar em outros. Ao mesmo tempo em que ele demitia funcionários dentro dos elevadores da Apple em Cupertino/Califónia, de lá eram lançados produtos como o Mac OS X em que Jobs disse que os botões da tela ficaram tão bonitos que o usuário ia ter vontade de lambê-los. Ao mesmo tempo em que ele não fazia pesquisa com consumidores para lançar seus produtos, ele levava seus designers para conhecer a Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright na Pensilvânia e inspirar o processo criativo deles. Ao mesmo tempo em que ele disse, com a maior naturalidade de mundo, que o trabalho de 1000 engenheiros que se debruçaram em um projeto durante 3 anos de nada valeu, ele lançou um MP3 com apenas 1 botão no meio, e é líder de categoria no segmento. Esse foi Steve Jobs.

Se eu tivesse a dura missão de resumir Steve Jobs em poucas palavras, eu me limitaria em: paixão aos detalhes e intuitividade. Tudo que a Apple fez, faz e fará carrega esses dois valores de forma sublime. Todos os produtos da Apple têm uma extrema atenção ao detalhes, tudo muito bem calibrado, bem pensado, e todo novo design tem um racional fortíssimo por trás. O cabo de energia é preso com imã ao computador, pois se você tropeça no fio não joga seu trabalho no chão. O botão de liga/desliga é sempre atrás, caso você esbarre, isso não deletará seu projeto todo. Tudo é muito intuitivo. Tudo é lindo. Nunca mexemos em um iPad mas quando pegamos um parece que já sabemos onde as coisas estão.

Jobs deixa um legado incomparável. Há quem compare o que ele faz como algo parecido com religião. Jobs é o messias, a Apple Store é a Meca da Tecnologia mundial e nós não somos meros consumidores, somos verdadeiros seguidores e adoradores. Vale lembrar que Steve Jobs era rodeado por outros gênios. Um deles é Jonathan Ive, que ao mesmo tempo que passeia em seu Aston Martin pelas praias da California, também desenha produtos como o iMac.

Ele foi um gênio provocativo. Qual CEO no mundo hoje que sentava com funcionário de chão de fábrica para discutir o processo de abrir da caixa dos produtos da Apple pelo consumidor? Jobs fazia isso, pois entendia que aquele era um momento mágico. Ele desafiou o mercado editorial com os e-Books, que vieram para ficar e crescem de forma avassaladora. Os livros físicos estão com os dias contados. Steve Jobs e a sua Apple ditaram a vanguarda tecnológica,e ao mesmo tempo, geram uma rápida e proposital obsolescência de seus produtos. O iPad 1 que, até o ano passado, estava na crista da onda, hoje já é velho. Dentro de anos, será item de museu. Não me resta dúvidas que Tim Cook e seu brilhante time de engenheiros e designers já estão com o iPad 3 pronto, e o iPad 4 já no protótipo, e o iPad 17 já idealizado. E cabe a nós consumidores sermos engolidos por esse tsunami de gadgets. A verdade é que eu não preciso de iPad 2, mas eu tenho que ter.

Hoje cedo comecei a aula com meus alunos com um 1 minuto de silêncio, e dediquei toda nossa aula à Steve Jobs ao seu brilhante legado à frente da Apple. Ao final, aplaudimos. Acho que esse é a melhor forma de homenageá-lo. Thanks, Steve!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

iWant the iPhone 4S


por @marcoshiller

Quatro de outubro de 2011, são 17:13hs, gente correndo pra lá e pra cá, eu estou sentado em um café na frenética Avenida Paulista conversando com um colega e acompanhando o lançamento mundial do novo iPhone 4S pelo twitter e pela cobertura de blogueiros do mundo digital. É o primeiro grande lançamento da Apple pós-saída do mago Steve Jobs. Não sei se nossas expectativas é que estavam sempre niveladas por cima em momentos como esse, ou se esse lançamento foi meio apagado mesmo. O fato de não ter Steve Jobs no palco com todo seu carisma, esse novo lançamento já perde um brilho. E quando olhamos o que nos é apresentado vemos: um novo iPhone 4s apenas com um processador mais veloz, uma câmera com 8 mega-pixels (que o Samsung Galaxy SII já tinha), novos apps bacaninhas (por exemplo, o novo aplicativo, “Find My Friends”, que permite localizar amigos que também têm iPhone) e uma política de preços de iPhone bem convidativa. Eu gostei, mas particularmente esperava mais. Duvido que o Steve Jobs se daria ao trabalho de subir no palco e apresentar “só” aquilo.

No meio da prosa, eu pergunto para o meu amigo: “E aí, gostou? Vai comprar o novo iPhone 4S?” e ele me responde: “Ah, eu não preciso de um, mas que tenho que ter!”. Achei que essa sintética e direta resposta que ele me deu retratou bem o significa a marca Apple no mundo hoje. Ele disse que não precisava, mas gostaria de ter. Qual marca no mundo que consegue extrair da boca de seus consumidores uma frase dessa? Ele não precisa, mas tem que ter. Qual marca que consegue escalar o Trend Topics do twitter de forma tão avassaladora quanto o escândalo do @RafinhaBastos no CQC? Qual marca hoje consegue fazer o mundo parar para assistir seus novos lançamentos? Quem respondeu que é a marca da maçãzinha mordida acertou. Naquele momento em que eu amigo me disse aquilo, me veio à mente uma frase imortalizada pelo mestre Peter Drucker, onde ele dizia que “o objetivo do marketing é tornar a venda supérflua”. E a Apple no mundo hoje é uma das poucas marcas que consegue fazer girar seus produtos em suas prateleiras pelo simples desejo que move na mente dos consumidores. Não precisa fazer grandes apelos publicitários, o produto e a marca por si, são os “vendedores” da empresa.

Curioso que no dia de hoje em que a Apple apresenta para o mundo seu iPhone 4s, no encontro da 5th Avenue com o Central Park em Nova York, a loja da Apple Store, ou a “Meca” da tecnologia mundial, está passando por reformas. Eu estive em Nova York há 20 dias e a famosa fachada (há quem diga que ironiza a pirâmide do Museu do Louvre em Paris) está completamente coberta por tapumes com os seguintes dizeres: “We’re simplifying the Fifth Avenue cube. By using larger, seamless pieces of glass, we’re using Just 15 panes instead of 90.” (traduzindo: “Estamos simplificando o cubo da Quinta Avenida. Por meio de pedaços de vidros transparentes e maiores, vamos usar apenas 15 painéis em vez de 90”). Acho que eles estão simplificando os seus eventos de lançamento também. Mas dentro da loja, lotação total. Nunca vi uma loja tão cheia em toda a minha vida. Muita, mas muita gente mesmo. As bancadas repletas de consumidores, de todas as idades, raças e perfis etnográficos, além de workshops de produtos sendo feitos pelos funcionários. Minutos antes eu tinha ido à loja da Sony na Madison Avenue, e tinha 7 consumidores. No dia de hoje, coincidentemente, a consultoria Interbrand divulgou seu novo ranking de valor de marca, e a Apple foi a marca que apresentou o maior crescimento de valor no mercado.

Ave, Jobs!

Mestres das Marcas


por @marcoshiller

Ao longo de nossa vida acadêmica nos deparamos com alguns bons professores, mas nos deparamos também com alguns que deixaram a desejar. Esse é um processo natural e que faz parte de nossa educação, talvez para aperfeiçoar nosso nível de criticidade sobre as pessoas. E nesse texto aqui resolvi elencar alguns dos professores e autores que passaram um dia pela minha frente ou pela minhas mãos para falar sobre MARCAS e que foram inesquecíveis na minha vida, além de serem decisivos para ajudar a formar quem eu sou hoje, ou pelo menos, quem eu pretendo ser:

- SÉRGIO ZYMAN: eu gosto de gente polêmica, e esse mexicano aqui da FOTO foi polêmico até demais. Zyman foi ex-VP de Marketing de uma tal de Coca-Cola e foi o pai de um dos maiores erros de marketing (que ele não assume) de todos os tempos: o lançamento da New Coke. Zyman é brilhante, é ácido, é um gênio. Ele era o terror das agências da Madison Avenue em Nova York. Passou por Harvard e hoje vive como consultor. Escreveu um livro que eu adoro, tenho autografado por ele, e sempre recomendo: “O fim do marketing como nós conhecemos”, que hoje se encontra mais fácil em sites como http://www.estantevirtual.com.br. Caso você queira o capítulo 1 desse livro scaneado, me mande um email, rs!

- CLOTILDE PEREZ: eu afirmo com a maior tranqüilidade do mundo que a Clotilde é a melhor pesquisadora e autora de marcas que temos no Brasil hoje. Escreve de forma brilhante, e que cativa seus leitores. Tem um olhar apuradíssimo, mesmo porque é uma semioticista do mais alto quilate. Ela me deu um curso de semiótica de marcas em 2009 na ECA-USP, instituição onde ela é livre-docente. Pena que ela posta pouco no twitter (@cloperez).

- PAULO DE LENCASTRE: eu me arrisco a dizer que foi o melhor professor de marcas que passou pela minha frente. Paulo é professor da Universidade Católica do Porto e um monstro de um pesquisador. Fez seu doutorado na Bélgica e vem sempre ao Brasil para dar mini cursos. Estive com ele na ECA-USP (dentro do curso da Clotilde) e foram tardes de discussões espetaculares sobre UNILEVER, NESTLÉ, BIC e BENETTON. Palmas para o professor Lencastre.

- GUILHERMO OROZCO: eu assistir um mini curso sobre “Comunicação, Tecnologia e Visualidades” na ECA-USP em 2009 com o professor Orozco. Ele mostrou todo um pano de fundo de como funciona o processo de aprendizagem dos jovens adolescentes hoje diante dos fenômenos midiáticos que nos cerca, e apresentou como nós consumidores, que transitamos na pós-modernidade, devemos lidar com essa capacidade de decodificação cada vez mais limitada. Professor Orozco é titular da Universidade de Guadalajara no México e tem seu doutorado em Harvard.

- AUGUSTO NASCIMENTO: esse é o autor do livro “Os 4 Es do Marketing e do Branding”. Conheci o professor Nascimento em uma palestra dele em 2010 na livraria Cultura. Por meio de uma abordagem leve, ao mesmo tempo, dinâmica e cheia de conteúdo, Nascimento foi mostrando todo o seu vasto conhecimento no mundo do Branding. Comprem o livro dele já! É muito bom!!!

- DAVID AAKER: e por último, mas não menos importante deixo o pai de toda essa história. Se não fosse o livro “Brand Equity Management” do professor Aaker em 1991, acho que toda discussão que temos sobre marcas hoje não existiria. David Aaker está na ativa ate hoje, é professor emérito da Universidade de Berkeley na Califórnia. Sim, ele tem twitter (@davidaaker) mas acho que publica os tweets dele é algum ghost writer. Quem está mais na ativa hoje é a filha dele, Jeniffer Aaker (@aaker) com quem já troquei tweets.